O professor propôs a realização de três composições baseadas em tipografia a partir dos versos dos heterónimos de Fernando Pessoa que apresento de seguida.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Ricardo Reis (Vem Sentar-te Comigo, Lídia, à Beira do Rio)
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!
Alberto Caeiro(Um Renque de Árvores lá Longe)
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Álvaro de Campos (Ode Triunfal)
Fernando Pessoa foi alguém que criou e viveu quase todas as possibilidades ser e estar no mundo. O seu temperamento levo-o a desdobrar a sua individualidade criando personalidades diferentes/heterónimos que exprimem a sua apreensão da Vida. Os heterónimos são personagens de um drama e esprimem estados de alma e consciência distintos e possuem biografia própria.
Ricardo Reis aceita o destino com naturalidade, considerando que os deuses estão acima do homem, e acima dos deuses se encontra o Fado. Defende uma filiosofia moral epicurista e estóica. O epicurismo consiste na filosofia moral de Epicuro (341-270 a C.), que defendia o prazer como caminho da felicidade. Para que essa satsifação dos desejos não provoque dor, é necessário um estado de ataraxia, de tranquilidade. O estoicismo é uma corrente filosófica que acredita que é possível encontrar a felicidade desde que não se ceda ao impulso dos instintos, seguindo o ideal ético da apatia que se define como a ausência de paixão e permite a liberdade. Ricardo Reis é um poeta disciplinado e considera que a verdadeira sabedoria da vida é viver de forma equilibrada e serena sem desassossegos. Procura ignorar tudo conscientemente, pensa apenas o momento, aceita a dureza do fado, a dureza da vida. Reis é um representante do homem clássico. Advoga o carpe diem(aproveita o dia), o prazer natural, mas controlado, sem paixões violentas, tem cosnciência da brevidade de tudo. Aceitar o mundo, aquilo que somos é para Ricardo Reis o único caminho para a felicidade.
Alberto Caeiro é o poeta das sensações, só lhe interessa viver o mundo que capta pelas sensações. Poeta do olhar, para ele “pensar dói”, recusa o pensamento metafísico, considera que o sentido das coisas reduz-se à percepção da cor, da forma e da existência. A realidade vale por si mesma, cada coisa é o que é. Caeiro vê com os olhos e não com a mente, para ele basta sentir a existência do mundo, basta experimentá-lo através dos sentidos, através do ver. Condena o escesso das sensações pois considerea que a partir de um certo grau as sensações passam de alegres a tristes. Vive de acordo com a natureza, na sua paz e simplicidade. Pela crença na natureza é um poeta pagão que aceita a vida sem pensar e considera que existir é um facto maravilhoso desnudando as coisas de sentidos filosóficos. Ao procurar ver as coisas como elas realmente são, sublima o real, numa atitude panteísta de divinação das coisas da natureza.
Álvaro de campos evolui ao longo de três fases: a de influência decadentista, a futurista e sensacionista e a intimista ou independente. Na primeira fase, encontra-se o tédio de viver, a morbidez, o decadentismo,a sonolência, o torpor e a necessidade de novas sensações. Na segunda fase, numa linguagem excessiva e impetuosa, apresenta a beleza da força da máquina, o progresso técnico numa intensidade e violenta totalização das sensações(unanimismo). Como sensacionista expressa as sensações de energia e movimento, procura sentir tudo de todas as maneiras. Para ele a única realidade é a sensação e procura utrapassar os seus limites. Há um excesso de sensações, a inquietude, a exaltação da energia, de todas as dinâmicas, da velocidade e da força até de situações de paroxismo. Na terceira fase, perante a incapacidade das realizações, volta o abatimento a abulia, a revolta e o inconformismo, a dispersão e a angústia, o sono e o cansaço.
Moreira, V. & Pimenta, H. 2009. Português 12º Ano. Preparação para o Exame Nacional 2009. Porto:Porto Editora.
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